O ouro secreto da menopausa
- Claudia Gomes

- 4 de set.
- 4 min de leitura
Aqui em casa o sábado amanheceu com o coração batendo compassado; levei comigo o cheiro do chá, a lembrança do quintal e a alegria tranquila de ter sido convidada para dar uma aula no curso Travessia da Menopausa, idealizado pela ginecologista natural Bel Saide; diante de um grupo grande de mulheres, reunidas por uma curiosidade amorosa e uma coragem que reconheço de longe, falei sobre A Alquimia da Menopausa; não apenas sobre sintomas e protocolos, mas sobre o tecido emocional e espiritual dessa passagem que pede tempo, escuta e delicadeza.
Quando falo em alquimia, não é preciso imaginar fórmulas difíceis nem mistérios inalcançáveis; penso em um processo lento, parecido com o que acontece com uma fruta que amadurece, com uma semente que rompe sua casca ou com a água que, aos poucos, se transforma em vapor; a alquimia é a arte de transformar a matéria, e eu a vejo como um espelho da vida; tudo se move em etapas; há tempos de escuro, em que nada parece florescer; tempos de clarear, quando o caminho volta a se mostrar; tempos de aurora dourada, em que a experiência se adoça e amadurece; e tempos de plenitude rubra, em que o vivido se integra, se oferece em sombra, flor e fruto; é esse movimento que tomo emprestado para falar da menopausa, porque o corpo da mulher também se transforma assim, em ciclos de dissolver, clarear, amadurecer e frutificar.
Peço então que se pense a mulher como semente; na perimenopausa, essa semente cai na terra escura; tudo parece abafado e confuso; a casca precisa se desfazer para que algo novo possa surgir; na menopausa, o broto rompe a superfície e encontra a claridade; é um recomeço de si mesma; no pós-menopausa, esse broto se ergue em direção ao sol, amadurece como fruto e carrega em si a doçura da experiência; e, por fim, a árvore inteira se mostra, com raízes profundas e copa larga; já não precisa provar nada; sabe a sombra que oferece, sabe os frutos que pode entregar; essa é a sabedoria da anciã.

Sempre que compartilho esse mapa simbólico, abre-se um campo de compreensão serena; a conversa se alarga; o corpo respira; as mulheres percebem que a menopausa não é somente um balanço de hormônios; percebem que o corpo acompanha a alma em um processo de transformação muito mais amplo; eu arrisco dizer que muitas das marés hormonais são consequências desse processo sutil, como ondas que respondem a uma força mais profunda que nos atravessa; e quando esse entendimento se abre, a sensação de medo e de perda começa a se dissolver; no lugar dela, nasce um respeito pelo próprio caminho, uma reverência pelo tempo e pela vida que nos move.
Eu mesma vivi essa mudança de olhar como quem abre uma janela numa casa antiga; no começo, tudo era sombra, calor repentino, noites mal dormidas e uma estranheza em não reconhecer meu próprio corpo; havia dias em que me perguntava se estava perdendo algo de mim; mas pouco a pouco, fui percebendo que não se tratava de perda, e sim de depuração; como se a vida me convidasse a simplificar, a deixar cair o que já não fazia sentido; foi duro em alguns momentos, sim, mas libertador em muitos outros. Aprendi a escutar melhor o silêncio, a respeitar meu corpo quando ele pedia pausa, a escolher com mais clareza o que me nutre.
Vi minhas relações se transformarem, porque também comecei a dizer não com mais firmeza, a não me gastar em terrenos que me esvaziavam; e, ao mesmo tempo, um sim profundo brotou dentro de mim — um sim para a arte, para a criação, para o trabalho com outras mulheres. Sinto que esse caminho, antes árido, começou a florescer de uma maneira que me surpreendeu. E percebo isso no simples da vida: no cuidado com minha horta, onde planto legumes e flores tintórias e vejo o tempo ensinar mais do que qualquer livro; nas manhãs em que caminho pelo quintal com Luna e Vênus correndo livres, me lembrando da alegria de estar viva; nas tardes em que me sento no silêncio do meu ateliê, onde tecidos, tintas e histórias me esperam para nascer.
Hoje sei que a menopausa não é um fim, mas um portal; ainda enfrento os desafios que ela traz, mas caminho de outra forma; não como quem luta contra o inevitável, e sim como quem se entrega à experiência de amadurecer; é como se tivesse aprendido a ler os sinais do corpo com mais calma e a reconhecer a alma pedindo novos espaços; percebo que cada sintoma me fala de algo mais fundo; um calor que me atravessa não é apenas físico, é também espiritual, como um fogo de limpeza; uma insônia pode ser chamada da madrugada, pedindo que eu escreva, borde ou me sente em silêncio comigo mesma; e até a tristeza que por vezes aparece carrega em si um convite para recolher, para simplificar, para me aproximar do essencial.
Escrevo para que você, que talvez esteja no limiar dessa mudança, encontre uma imagem onde pousar a mão; que a semente em você aceite a terra escura; que o broto em você deseje a claridade; que a aurora em você perfure as manhãs; que a árvore em você descubra a estação da frutificação; e que, ao final desta leitura, algo tenha aprendido; não uma lição dura, mas um saber macio que se leva no bolso; um fio de compreensão que ampara a travessia; se este tema toca sua vida, saiba que existe um caminho de escuta e de artes do espírito para acompanhá-la; é nele que tenho caminhado; é nele que recebo as mulheres; é nele que a menopausa deixa de ser um fim e se revela como obra de arte em processo; paciente, viva, inteira.
Com afeto sempre,
Cláudia Gomes



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