Quando uma mulher se escuta, ela floresce
- Claudia Gomes

- 31 de jul.
- 3 min de leitura
Atendo algumas mulheres em fases de transição, mas há processos que me tocam de um jeito especial.
Hoje, quero contar, sem nomes ou exposições, sobre um desses encontros que me trouxe uma alegria profunda.
Ela chegou até mim aos 48 anos, atravessando o climatério com muitas dúvidas e desconfortos. O corpo já não respondia como antes: o peso aumentara, a libido escasseava, os calores vinham em ondas e, talvez o mais angustiante, ela se sentia sem rumo. Havia deixado uma sociedade profissional e não sabia o que fazer a seguir. Criativamente, estava bloqueada. Sentia-se esvaziada de ideias, de entusiasmo, de pertencimento a si.
Apresentei a ela a proposta da Contoterapia: um caminho de escuta profunda, guiado por histórias, símbolos e processos criativos.
Cada atendimento é único. Não trabalho com fórmulas prontas.
Antes de iniciar, realizo uma escuta cuidadosa, uma entrevista sensível, como quem observa o solo antes de plantar. A partir desse mapeamento, elaboro um roteiro personalizado e escolho um conto que será o fio condutor da jornada.
Porque os contos, esses que vêm da tradição oral, não são meras narrativas.
Eles carregam em si sabedorias antigas.
Têm o poder de espelhar o que vive dentro de nós, mesmo o que ainda não sabemos nomear.
Durante quatro meses, seguimos juntas.
A cada encontro, uma escuta mais fina, um mergulho mais profundo, uma imagem nova que emergia do inconsciente.
Ela foi se abrindo como uma flor que já estava pronta, mas precisava de calor e tempo para se mostrar.

Descobriu que escrevia poesia. E não qualquer poesia, ela realmente escrevia com alma.
Comoveu-me ver como suas palavras, antes sufocadas, começaram a respirar.
Havia algo muito especial em sua escrita. Como se estivesse, finalmente, conversando com sua essência.
Utilizamos práticas como bordado intuitivo, escrita terapêutica, colagem, pintura, escultura com sucatas, argila, desenho. Nenhuma dessas expressões tinha fim estético e todas tinham propósito simbólico.
A arte, nesse contexto, é o caminho, e não fim. É linguagem do corpo e da alma, ponte entre o invisível e o visível.
A Arteterapia, unida aos contos, age como um sutil tradutor da vida interior.
Traz à tona o que estava escondido, e ilumina partes adormecidas.
E nos ajuda a ver com outros olhos o que pensávamos conhecer de cor.
Esse trabalho não é sobre respostas.
Eu sempre digo que não sou guia, nem conselheira.
Sou facilitadora de processos simbólicos e criativos.
Minha escuta segura um espaço onde as mulheres possam escutar a si mesmas.
E, quando isso acontece, quando uma mulher se escuta de verdade, algo floresce dentro, e fora.
O climatério costuma ser atravessado com muitas dúvidas, e por vezes é visto socialmente como um tempo de perda, de fim de ciclo, de ausência.
Mas no que vejo e vivo, nos meus atendimentos, essa fase tem outra face: ela carrega um imenso potencial de transformação interior.
Para muitas mulheres, é justamente nesse momento que surgem as perguntas mais essenciais: Quem sou eu agora? O que desejo criar a partir de mim mesma? Que voz é essa que pulsa no silêncio?
Esse tempo, que parece marcado por encerramentos, pode ser também o solo fértil de uma nova escuta.
A escuta de si. A escuta do que ficou adormecido. A escuta da mulher que se transforma — não para ser outra, mas para se habitar com mais verdade.
É uma travessia. E como toda travessia, pede coragem, presença e entrega.
Mas é também um chamado à vida interior, à criatividade, à reconexão com aquilo que faz sentido.
É uma fase em que a alma parece sussurrar, com mais força, o que deseja florescer.
Essa mulher me disse, ao final do processo, que jamais imaginou que fosse possível se encontrar tanto em tão pouco tempo.
Mas o tempo da alma não é o tempo do relógio.
Quando uma mulher está pronta, mesmo sem saber, tudo pode acontecer.
E eu sigo acreditando nisso.
Porque quando uma mulher se escuta com coragem e ternura, quando ela se permite criar com as próprias mãos as imagens que vivem dentro de si, quando ela se deixa transformar pela arte, pelas histórias e pela delicadeza dos símbolos… algo realmente desperta dentro dela.
E esse despertar não é apenas dela. É de todas nós.
Cada mulher que floresce, abre espaço para que outras também possam desabrochar.
É por isso que sigo.
Com escuta, presença e poesia.
Porque acredito no poder do invisível, no gesto criativo que regenera e no silêncio que, quando bem acolhido, revela a verdade mais bonita:
a de que há vida nova, mesmo nas fases mais incertas.
Com afeto,
Cláudia Gomes



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