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Será que a arte que não nos faz sentir… faz algum sentido?

Essa pergunta me visitou hoje cedo, como chegam certas inquietações sem pedir licença.

Preparei um chá quente de ervas que colhi da horta, ainda com gotas da chuva invernal nas folhas.

Fui para o jardim.

O gramado estava verde, intensamente verde, daquele jeito que só o inverno sabe fazer depois de uma boa chuva.

O ar estava frio, o vento gelado varria minha pele como quem acorda a alma.

Mas o sol… ah, o sol…

Aquecia devagar, como se acariciasse o corpo em silêncio.

Sentei no banco de madeira, em frente à fogueira ainda apagada, e fiquei ali…Contemplando.


E a pergunta voltou:

Será que a arte que não nos faz sentir… faz algum sentido?


Você já parou pra pensar nisso?

Tem tanta coisa sendo chamada de arte por aí.

Imagens belas, bem compostas, impecáveis até, mas que não provocam nada.

Não há um arrepio.

Não há um desconforto.

Não há um sorriso no canto da boca, nem uma lágrima silenciosa no canto do olho.

Nada.

A arte, se não nos faz sentir, talvez seja apenas decoração?

Paisagem anestésica?

Superfície sem mergulho?


Quando decidi me dedicar à arte em 2024, foi porque não havia mais sentido em seguir produzindo coisas que não mexessem comigo, e com o outro.


Aquilo que ofereço ao mundo só faz sentido se puder tocar alguém de verdade.


Se puder abrir fendas.

Se puder ser morada ou espelho.

Mesmo que seja um espelho que incomode.

Porque é isso que a arte faz: ela incomoda, ou conforta, mas nunca é neutra.

Ela tem a função sagrada de provocar, e muitas vezes, desorganizar.

Apontar o que não víamos, ou lembrar o que esquecemos.


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Rick Rubin diz algo importante sobre isso: 

“A arte vai além da linguagem, além da vida. É um modo de enviar mensagens entre nós e através do tempo.”

E é isso.


A arte é esse correio invisível.


Uma ponte misteriosa entre o que sou e o que o outro sente.


Ela fala com a parte de nós que não sabe explicar, mas sabe estremecer.

Às vezes, a arte está ali só para nos mostrar que algo está em desequilíbrio.

Para provocar uma tensão, um desconforto, uma pergunta.

Outras vezes, ela é descanso, respiro, oração.


Mas sempre, sempre ela nos move.


Então me diga:

quando foi a última vez que você foi tocado de verdade por uma obra de arte?


Quando foi que um quadro, uma música, uma peça, uma dança ou uma história te atravessou de um jeito que você não soube explicar?


Quando foi que você se viu diante de algo tão vivo, que precisou parar, silenciar, respirar mais fundo?

Se faz tempo, talvez seja hora de sair.


De calçar um sapato confortável, colocar um casaco quente e ir até uma galeria, um museu, um centro cultural qualquer.


Ou então abrir um livro, assistir àquele filme que você vem adiando, ouvir uma canção antiga com os olhos fechados.


Não para “entender”, mas para sentir.

Para deixar que a arte te encontre, e quem sabe, te desarrume um pouco.


Porque a arte que faz sentido, é sempre, sempre, a arte que faz sentir.




Com afeto,

Cláudia Gomes 


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